Poema escrito em 1935.
Infelizmente, não encontro referências a quem o traduziu. Parece que ele foi publicado, pelo menos uma vez, no livro Poemas do Último Século Antes do Homem, na editora Modo de Ler (atualmente esgotado).
Quando o li, irresistivelmente surgiu-me uma pergunta que sinto fascinante:
Terá José Saramago lido este poema e, quem sabe se muitos anos depois, a partir dele, lhe ter começado a crescer a ideia de escrever o Memorial do Convento? Porque, não há dúvida nenhuma, o Memorial é uma resposta plena ao desafio lançado por Bertolt Brecht neste poema (de que junto o original alemão).
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Perguntas de um Operário Letrado
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas.
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