domingo, 5 de dezembro de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 39.

 

(Capa do JN de 14/10/2021)


Apontamentos pessoais à publicação 39. de "Fratelli Tutti", do Papa Francisco (ver no fim):

Hoje vou abordar duas questões relativas à migração: deixar ou não entrar migrantes no nosso país; e como os devemos tratar.

Quais os argumentos para fechar a porta à imigração? Analisemos alguns.

O argumento de que é para evitar a entrada de terroristas é infantil, claro, e não pode ser levado a sério – os terroristas que queiram entrar, entram mesmo; e até é preferível que o façam sendo claramente identificados pelos serviços administrativos, do que fazê-lo clandestinamente.

O argumento de que tiram o emprego aos nacionais é falso, pois eles vêm fazer os trabalhos que os nacionais se recusam a realizar (ver foto que acompanha este post).

Mas isto aplica-se aos imigrantes altamente qualificados? Não, mas estes vêm trazer um estímulo para os nacionais que não é de desprezar.

Na verdade, o verdadeiro problema em Portugal é este: como evitar que os NOSSOS altamente qualificados emigrem para o estrangeiro, já que ninguém quer vir para cá.

E os trabalhadores mais pobres ficarão prejudicados? Apenas se os imigrantes forem ilegais (quando o país dificulta a sua entrada) e se os patrões se aproveitarem disso para baixar todos os salários. De qualquer modo, em qualquer medida económica haverá sempre gente prejudicada – a questão aí será como apoiar devidamente essas pessoas e não as abandonar à sua sorte.

De qualquer modo, a realidade que se observa em vários países é que, pelo contrário, há muita falta de mão-de-obra para suprir as principais necessidades em diversas áreas da economia. Veja-se, por exemplo, o caso recente do Reino Unido que levou a carências com contornos dramáticos apenas porque não conseguiam contratar suficientes camionistas britânicos.

O argumento de que vêm viver da Segurança Social também não colhe. Estes imigrantes são as pessoas do seu país de origem que têm mais iniciativa e coragem (os outros não se atreveram a mexer-se). Eles rapidamente criam novos negócios e novos postos de trabalho, dando mais emprego ao nacionais. Além de constituírem um exemplo vivo de sucesso pelo trabalho para todos os nacionais. Assim, eles vão quase sempre contribuir imenso para a riqueza do país que os acolheu, não para a sugar.

Pelo contrário, mais gente (legalizada, claro está) a contribuir para a Segurança Social irá torná-la mais sustentável.

Sendo pessoas normalmente mais jovens, ajudam também à renovação das gerações. Com a consequência, por exemplo, de haver assim mais gente a contribuir para que os mais velhos possam ter reformas melhores.

Por tudo isto, abrir portas à imigração, facilitando a legalização e conferindo a todos a mesma dignidade laboral e social (pelo menos), beneficia o pais e praticamente toda a gente.

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39. Ainda por cima, nalguns países de chegada, os fenómenos migratórios suscitam alarme e temores, frequentemente fomentados e explorados para fins políticos. Assim se difunde uma mentalidade xenófoba, de clausura e retraimento em si mesmos». Os migrantes não são considerados suficientemente dignos de participar na vida social como os outros, esquecendo-se que têm a mesma dignidade intrínseca de toda e qualquer pessoa. Consequentemente, têm de ser eles os «protagonistas da sua própria promoção». Nunca se dirá que não sejam humanos, mas na prática, com as decisões e a maneira de os tratar, manifesta-se que são considerados menos valiosos, menos importantes, menos humanos. É inaceitável que os cristãos partilhem esta mentalidade e estas atitudes, fazendo às vezes prevalecer determinadas preferências políticas em vez das profundas convicções da sua própria fé: a dignidade inalienável de toda a pessoa humana, independentemente da sua origem, cor ou religião, e a lei suprema do amor fraterno.

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