segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 32.

 


As pandemias e outros flagelos da história

32. É verdade que uma tragédia global como a pandemia do Covid-19 despertou, por algum tempo, a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Recordamo-nos de que ninguém se salva sozinho, que só é possível salvarmo-nos juntos. Por isso, «a tempestade – dizia eu – desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. (…) Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso “eu” sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, esta (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos».

Apenas acrescento que os desafios que teremos de enfrentar e resolver num espaço talvez já não de décadas, mas de alguns (poucos!) anos, obrigam-nos a mudar o paradigma em que temos vivido, o da competição desenfreada e destrutiva pelos recursos (sejam os da natureza, sejam os dos salários, os dos lucros, etc.) sobre o qual o capitalismo se tem sustentado em detrimento do nosso planeta.

Então, qual a alternativa? Ela é muito clara. A colaboração, a cooperação, ou algo equivalente. Esta cooperação tem de ser instaurada entre pessoas em geral, entre políticos em particular e, principalmente, com a Natureza ao nível planetário (e não só ao nível local).

Em particular, a ideia mítica de que o ser humano pode domar a Natureza e pô-la ao seu serviço tem-se revelado cada vez mais catastrófica. É inevitável rever urgentemente a nossa relação política e económica com a Natureza. Senão, o que acabará por ser inevitável é a nossa autoaniquilação (após imenso sofrimento para todos, é importante não esquecer).

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