quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 21.

 


21. Há regras económicas que foram eficazes para o crescimento, mas não de igual modo para o desenvolvimento humano integral. Aumentou a riqueza, mas sem equidade, e assim «nascem novas pobrezas». Quando dizem que o mundo moderno reduziu a pobreza, fazem-no medindo-a com critérios doutros tempos não comparáveis à realidade atual. Pois noutros tempos, por exemplo, não ter acesso à energia elétrica não era considerado um sinal de pobreza nem causava grave incómodo. A pobreza analisa-se e compreende-se sempre no contexto das possibilidades reais de um momento histórico concreto.

Há uma ideia de que um regime económico que permita apenas a alguns serem possuidores da maioria de riqueza do planeta e deixar todos sozinhos a decidirem da sua vida é tudo quanto basta para uma sociedade progredir. Parece-me tratar-se aqui, no mínimo, de um pensamento ilusório (“wishful thinking”´): a história tem-nos mostrado que isto nunca acaba bem e que, entretanto, há que contabilizar o sofrimento de biliões de seres vivos (todos os que vivemos neste planeta).

A pobreza dos outros (seja ela de que tipo for) deve sempre incomodar-nos porque ela causa infindáveis sofrimentos. Uso deliberadamente a palavra “infindáveis” porque muitos estudos mostram que é muito mais fácil cair na pobreza do que sair dela – aliás, vários estudos referem que, nos países da OCDE, para que uma criança saia da pobreza em que a sua família vive, são precisas, em média, cinco gerações até ela conseguir chegar a um padrão de vida médio; e, fora destes países, o número de gerações necessárias aumenta substancialmente.

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