20. Este descarte exprime-se de variadas maneiras, como, por exemplo, na obsessão por reduzir os custos laborais sem se dar conta das graves consequências que provoca, pois o desemprego daí resultante tem como efeito direto alargar as fronteiras da pobreza. Além disso, o descarte assume formas abjetas, que julgávamos já superadas, como o racismo que se dissimula mas não cessa de reaparecer. De novo envergonham-nos as expressões de racismo, demonstrando assim que os supostos avanços da sociedade não são assim tão reais nem estão garantidos de uma vez por todas.
O Papa fala-nos aqui de dois males que assolam a humanidade há séculos: a ganância e o racismo.
Comecemos pela ganância.
É normal que todos a sintamos, numa ou noutra altura das nossas vidas. O nosso cérebro empurra-nos para a busca e acumulação de recursos.
Mas isso não quer dizer que devamos deixar estes nossos impulsos primitivos dominarem a nossa mente. Diminuir os custos laborais (por exemplo, recorrendo a despedimentos e cortes salariais, para dar lucros e ordenados milionários a quem é mais poderoso) é uma forma miserável de ganância, por causa das terríveis consequências sociais que tem.
Felizmente, temos um cérebro racional que pode regular razoavelmente estes impulsos, desde que o queiramos.
Mas temos, também, de modificar a cultura que, no fundo, estamos a alimentar hoje em dia, em que o sucesso é exacerbadamente medido pelas manifestações de riqueza, tornando a ganância num valor a cultivar.
Quanto ao racismo, tratar-se-á de um problema essencialmente cultural? Talvez sim, mas sabemos, no entanto, que joga a um nível profundo com o medo do diferente. Até a ciência, numa das suas páginas da história mais tristes, no passado, contribuiu para este flagelo. Felizmente que agora veio corrigir e dizer-nos que está provado que não existe isso de “raças”.
Mais uma vez, é ao nosso cérebro racional que devemos recorrer para rejeitar impulsos, ideias e comportamentos que nos envergonham, mas que podem surgir em qualquer momento (devido à educação recebida, à influência de líderes, ou de outras pessoas significativas, ou de grupos, etc.).
Finalmente, o Papa alerta-nos para uma grande verdade: que a luta por uma humanidade melhor e mais elevada nunca está terminada.
Não podemos nunca baixar os braços.
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