domingo, 5 de setembro de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 22.

 


Direitos humanos não suficientemente universais

22. Muitas vezes constata-se que, de facto, os direitos humanos não são iguais para todos. O respeito destes direitos «é condição preliminar para o próprio progresso económico e social de um país. Quando a dignidade do homem é respeitada e os seus direitos são reconhecidos e garantidos, florescem também a criatividade e a audácia, podendo a pessoa humana explanar suas inúmeras iniciativas a favor do bem comum». Mas, «observando com atenção as nossas sociedades contemporâneas, deparamos com numerosas contradições que induzem a perguntar-nos se deveras a igual dignidade de todos os seres humanos, solenemente proclamada há 70 anos, é reconhecida, respeitada, protegida e promovida em todas as circunstâncias. Persistem hoje no mundo inúmeras formas de injustiça, alimentadas por visões antropológicas redutivas e por um modelo económico fundado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até matar o homem. Enquanto uma parte da humanidade vive na opulência, outra parte vê a própria dignidade não reconhecida, desprezada ou espezinhada e os seus direitos fundamentais ignorados ou violados». Que diz isto a respeito da igualdade de direitos fundada na mesma dignidade humana?

Quando as pessoas não têm de estar permanentemente a lutar pela sobrevivência, seja esta material ou psíquica, ficam mais livres de dedicar os seus melhores esforços em áreas que contribuem para o bem comum. É por isso que "O respeito destes direitos «é condição preliminar para o próprio progresso económico e social de um país."

Porém, numa sociedade organizada à volta do lucro como seu pilar essencial, o bem comum interessa pouco. Aliás, como interessa pouco a dignidade das pessoas.

O que fazer, então?

Talvez possamos começar por não valorizarmos o dinheiro, nem nenhuma manifestação da sua posse (recusando, por exemplo, o consumismo).

Podemos também votar em políticos e partidos que, sem deixarem de reconhecer a importância do dinheiro e do bem estar material, mostrem claramente a intenção de colocar o foco da sua ação nestas coisas bem mais importantes e urgentes: a dignidade de cada um e o bem-estar para todos.

Por fim, valorizemos estas duas vertentes de uma vida melhor, dando o exemplo com as nossas ações na vida do dia a dia, com os pares, com os subordinados, com os idosos, com as crianças; ao que eu acrescentaria sem hesitações: e com os animais. 

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