23. De modo análogo, a organização das sociedades em todo o mundo ainda está longe de refletir com clareza que as mulheres têm exatamente a mesma dignidade e idênticos direitos que os homens. As palavras dizem uma coisa, mas as decisões e a realidade gritam outra. Com efeito, «duplamente pobres são as mulheres que padecem situações de exclusão, maus-tratos e violência, porque frequentemente têm menores possibilidades de defender os seus direitos».
Continuamos a refletir sobre estes parágrafos que se encontram reunidos sob o tópico «Direitos humanos não suficientemente universais».
É muito interessante o Papa escrever isto porque, irresistivelmente, nos lembramos que exatamente a Igreja (aliás, como em quase todas as religiões) é uma das organizações onde não são reconhecidos «idênticos direitos» a mulheres e homens. Portanto, aqui, o Papa está a falar para fora, mas também para dentro da Igreja.
Depois, relata-se aqui uma evidência: as mulheres têm muito menos poder para se defenderem dos abusos, normalmente dos homens – é talvez por isso que há muito mais vítimas mulheres que homens.
Por isso, várias interrogações se acumulam em mim: Porque será tão difícil para os seres humanos tratarem-se como iguais? Afinal, onde está a nossa racionalidade? Ao serviço das crenças mais estúpidas? Ou da animalidade mais mecânica? Porque é que os homens revelam tanta falta de nobreza e de cavalheirismo em privado (e, infelizmente, também muitas vezes em público)? Qual a satisfação retirada de fazer sofrer os outros? Perguntas (ainda) sem resposta, creio.
Posto isto, proponho agora uma experiência a complementar na leitura deste parágrafo: onde surge a palavra «mulheres», experimentemos agora substituí-la por «crianças».
Veremos como praticamente todo este texto mantém a sua verdade, tanto mais aguda e pungente quanto sabemos que, de todas as pessoas, as crianças são as mais maltratadas, desprotegidas e vulneráveis … e as mais inocentes, não o esqueçamos.
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