quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 4.



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4. [São Francisco de Assis] Não fazia guerra dialética impondo doutrinas, mas comunicava o amor de Deus; compreendera que «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus» (1Jo 4,16). Assim foi pai fecundo que suscitou o sonho de uma sociedade fraterna, pois «só o homem que aceita aproximar-se das outras pessoas com o seu próprio movimento, não para retê-las no que é seu, mas para ajudá-las a serem mais elas mesmas, é que se torna realmente pai». Naquele mundo cheio de torreões de vigia e muralhas defensivas, as cidades viviam guerras sangrentas entre famílias poderosas, ao mesmo tempo que cresciam as áreas miseráveis das periferias excluídas. Lá, Francisco recebeu no seu íntimo a verdadeira paz, libertou-se de todo o desejo de domínio sobre os outros, fez-se um dos últimos e procurou viver em harmonia com todos. Foi ele que motivou estas páginas.

Ajudar as pessoas «a serem mais elas mesmas» pode incluir facilitar-lhes o acesso e o desenvolvimento tanto dos seus potenciais preferidos, como do melhor e do mais elevado de si mesmos (o que implica, claro, centrarmo-nos mais nas necessidades dos outros do que nas nossas).

Parece-me ser também esta a intenção do Papa Francisco, nesta encíclica, que passa por também suscitar «o sonho de uma sociedade fraterna».
Julgo ser importante fazermos nosso este sonho; ou, pelo menos, têrmo-lo sempre presente no nosso espírito, à medida que vamos lendo este texto. Porque, assim, é mais fácil decidir em consciência o que as palavras lidas vão gerar, fazer crescer, alimentar e desenvolver no mais íntimo de nós próprios.

Finalmente, questiono-me se, para haver fraternidade, terá de haver uma «harmonia com todos.» Não penso assim. A fraternidade constrói-se em cada dia trabalhando juntos para um bem comum a todos. E isso é melhor feito com a contribuição variada e, às vezes, conflituosa de toda a gente. Acredito que estes conflitos (desde que sejam de ideias e não se tornem pessoalizados) podem trazer uma maior riqueza ao projeto comum. 

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