sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 5.

 


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5. As questões relacionadas com a fraternidade e a amizade social sempre estiveram entre as minhas preocupações. A elas me referi repetidamente nos últimos anos e em vários lugares. Nesta encíclica, quis reunir muitas dessas intervenções, situando-as num contexto mais amplo de reflexão. Além disso, se na redação da Laudato si’ tive uma fonte de inspiração no meu irmão Bartolomeu, o Patriarca ortodoxo que propunha com grande vigor o cuidado da criação, agora senti-me especialmente estimulado pelo Grande Imã Ahmad Al-Tayyeb, com quem me encontrei (*), em Abu Dhabi, para lembrar que Deus «criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e chamou-os a conviver entre si como irmãos». Não se tratou de mero ato diplomático, mas de uma reflexão feita em diálogo e de um compromisso conjunto. Esta encíclica reúne e desenvolve grandes temas expostos naquele documento (**) que assinámos juntos. E aqui, na minha linguagem própria, acolhi também numerosas cartas e documentos com reflexões que recebi de tantas pessoas e grupos de todo o mundo.

(*) em 2019

(**) "Fraternidade humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum", Paulinas Editora

A foto deste encontro, a que o Papa se refere neste parágrafo, mostra algo que me comove muito. Esclareço porquê: dois seres humanos, com imperfeições pessoais que podem ser publicamente testemunhadas por todos, representando duas religiões/igrejas também com falhas (e que se guerrearam mutuamente durante séculos), a encontrarem-se para chegarem a uma declaração de humanidade comum que possa servir de guia para toda a gente de boa vontade no mundo. Pensando bem, é extraordinário!

Quanto ao parágrafo 5. em si:

Por várias razões, considero muito sábia e compassiva a proposta de juntar estas três condições de igualdade original dos seres humanos.

  • Primeiro, porque sem dignidade não há direitos que mereçam esse nome.
  • Segundo, porque sem dignidade nem direitos não se pode eticamente exigir deveres. Ou seja, não pode haver igualdade de deveres, quando ela não existe nos direitos e na dignidade. E muito menos exigir mais deveres para quem tem menos dignidade e direitos (que é o que, infelizmente, acontece mais vezes do que desejaríamos).
  • Terceiro, porque é uma triste e revoltante evidência que, mesmo com igualdade na dignidade (pelo menos, da material), há quem tenha mais direitos do que deveres (os ricos e poderosos) e quem tenha mais deveres do que direitos (os que não têm poder nem riqueza).

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