sábado, 7 de agosto de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 6.

 


A foto que escolhi (de Bernat Armangué) retrata a jovem voluntária da Cruz Vermelha, Luna Reyes, a ser abraçada por um imigrante senegalês em Ceuta (Maio de 2021). Diz ela (Público de 21 de Maio de 2021): 

«“Ele estava a chorar, eu dei-lhe a minha mão e ele abraçou-me”, disse Luna Reyes ao canal de televisão espanhol RTVE. “Ele agarrou-se a mim. Esse abraço foi um salva-vidas. (...) Eu só lhe dei um abraço. Abraçar alguém que pede ajuda é a coisa mais normal do mundo.”»


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6. As páginas seguintes não pretendem resumir a doutrina sobre o amor fraterno, mas detêm-se na sua dimensão universal, na sua abertura a todos. Entrego esta encíclica social como humilde contribuição para a reflexão, a fim de que, perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras. Embora a tenha escrito a partir das minhas convicções cristãs, que me animam e nutrem, procurei fazê-lo de tal maneira que a reflexão se abra ao diálogo com todas as pessoas de boa vontade.

Aquela foto constituiu o exemplo mais belo e recente de que me lembrei para ilustrar como se pode fazer do amor um lugar de irradiação duradoura, como uma luz que ilumina todos sem distinções de qualquer tipo.

Faz desanimar como vão sempre surgindo e se multiplicam, tal como as cabeças da Hidra de Lerna,  as «formas atuais de eliminar ou ignorar os outros», bem como as formas de rejeitar, excluir e lançar para as margens aqueles que decidimos arbitrariamente que “não merecem outra coisa”.

As respostas antigas estão a perder força e a perder eficácia. É preciso descobrir um sonho novo (e uma prática renovada). O Papa diz que esse sonho novo se constrói com a prática, mas esta não é suficiente, claro. Para além dela (e ela é absolutamente necessária), é de facto preciso um sonho unificador e inspirador de todos os esforços, que os una num mesmo sentido, com um significado profundo para a maior parte das pessoas (pelo menos, as de boa vontade), mas especialmente para os jovens (que ainda não têm nem as defesas nem a sabedoria que nós, mais velhos, temos).

Finalmente, com estes apontamentos, respondo ao convite à reflexão que o Papa faz a todos nós, neste parágrafo.

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