sábado, 7 de agosto de 2021

Papa Francisco, Fratelli Tutti, 7.


7. Além disso, quando estava a redigir esta carta, irrompeu de forma inesperada a pandemia da Covid-19, que deixou a descoberto as nossas falsas seguranças. Por cima das várias respostas que deram os diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto. Apesar de estarmos superconetados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que nos afetam a todos. Se alguém pensa que se tratava apenas de fazer funcionar melhor o que já fazíamos, ou que a única lição a tirar é que devemos melhorar os sistemas e regras já existentes, está a negar a realidade.

O primeiro comentário não sou eu que o escrevo. Dou a palavra a Susana Peralta (Professora de Economia na Nova SBE), no Público de 06/08/2021, pág. 13:

A Organização Mundial de Saúde tem multiplicado os apelos para não se vacinarem crianças e não haver terceira dose antes de aprovisionar os países mais pobres. (…) Mas que esta questão fundamental esteja arredada do debate só mostra que não aprendemos nada com a pandemia. É que mesmo que não queiramos ser generosos para com as pessoas dos países menos afortunados, podemos sempre pensar egoisticamente nas variantes que se poderão por lá desenvolver e cá chegarão num ápice. Não nos vão faltar enormes desafios globais para enfrentar nos próximos anos. Se não conseguirmos sair desta lógica de olharmos apenas para o nosso umbigo, estamos tramados.

Talvez seja por isto que, neste parágrafo, me parece que o Papa surge a defender, não uma revolução, pois que esta implica alguma forma de violência, mas talvez a revolta pura... Se sim, isto constitui uma medida do desespero a que a Humanidade chegou nos tempos atuais, se até o Papa entende que as velhas soluções já não podem ser melhoradas o suficiente para resolver os problemas contemporâneos (quanto mais os que sempre existiram).

De facto, o melhor talvez não seja tentar dar respostas velhas (aliás, de eficácia duvidosa; e, mesmo essa pouca eficácia vem de elas terem estado adaptadas aos contextos particulares, e passados, em que foram concretizadas) para problemas novos. Ainda por cima quando, atualmente, fazemos exigências de nível bem mais elevado para os resultados que esperamos obter.

Porém, essa busca de soluções novas não nos deve cegar para duas realidades: a) Devemos aproveitar as inequívocas boas experiências do passado. b) É prudente e sábio aprender com as que foram claramente prejudiciais, não as repetindo, nem insistindo mais nelas.

Reflitamos em como tudo isto também se aplica às nossas vidas individuais, no nosso dia-a-dia.

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